
Quilombos de Pinheiro, Maranhão
Território Quilombola de Santa Maria
O povoado de Santa Maria tem cerca de 210 moradores e 46 famílias e compartilha sua história com o Povoado Quilombola de Santa Rosa. Os moradores possuem, para a organização de atividades coletivas, de uma associação de moradores.
As casas do povoado são, predominantemente, de taipa e alvenaria.
As atividades produtivas predominantes são a agricultura, a pesca e o extrativismo. Há roça de mandioca, milho e farinha, mas alguns dos moradores têm dificuldade para acesso à alimentação relugar, o que é amenizado com a chegada de cestas básicas do governo federal.
A ocupação da região ocorreu ainda na época em que só havia “ponta de mato” no final da fazenda onde se plantava café, região onde se instalaram. A região era uma fazenda, um “retiro”. Havia um cafezal antigo na região, do velho Mariano Almeida, dono da fazenda de Santa Maria.
A terra foi passada para Antonio Gato, pai de Gonzaga. Os herdeiros da terra foram chamados com a morte do pai para a distribuição da terra, passando para os filhos e compartilhando-a com as famílias.
Os primeiros moradores foram vovó Joana Preta, Valeriano, Gerimana, que ficou com “meia légua de terra quadrada”, Mundica Jardim, Lázaro, Roque, Carará...e isso há mais de cem anos. Ainda na época do vintém.
A avó de um antigo morador da região, senhor Albino, contava que Bernardina – neta de Dona Raimunda, dizia que a Fazenda Santa Maria era antes chamada de Fazenda Pericumã. Foi ainda na Fazenda Pericumã que se iniciou o plantio de café na localidade, restando ainda alguns pés. A plantação de café era trabalhada por escravos.
O povoado foi batizado de Santa Maria em homenagem à santa, pois havia o festejo de santa Maria no mês de maio desde a época dos primeiros moradoras.
Havia um sumidouro na região próximo a São Joaquim, isto é, um poço com ferros espetados no fundo onde eram lançados os escravos ainda vivos como punição.
É possível encontrar na região objetos usados pelos antigos escravos. A área estava sob influência também de um engenho da região do Lobo. O engenho era tocado a boi, com garapa caindo de um lado e cachaça de outro. Próximo havia o cemitério da região, chamado de São Domingos, que o senhor Roque relata ser muito antigo.
O cemitério foi criado depois da instalação na região do Engenho Riacho. Posteriormente, o rio passou a ser conhecido como rio do engenho.
A região era zona de passagem de escravos, onde eles também se escondiam, área que se estendia até o
Roque, para onde muitos iam. A mãe da dona Joana, uma senhora chamada Raimunda, contava que escravos
vinham da região onde atualmente se localiza a Comunidade Quilombola de Cuba e passavam pelo povoado de
Refúgio e alguns ficavam na localidade. De lá, alguns partiam para a região chamada Roque e seguiam para
Marajá.
“Eles passavam de passagem! Se escondiam pra cá. Se escondiam para ir pro Roque. Essa velha Mundica Jardim eu conheci ela. Nunca conduzi ela porque eu era novinho pra conduzir ela. Eles passavam com ela aqui numa
rede. Largavam pra aí. Voltavam e depois iam buscar” (Osvaldo Mendes).
Segundo os moradores, havia ocupação do povoado já em 1920.
As casas de farinha, de propriedade de moradores, são ocasionalmente compartilhadas com os que não dispõem de uma em suas residências.




Há a presença marcante do Boi de Santa Maria nas festividades locais.
Há muitos evangélicos na comunidade que não participam das atividades festivas como o Bumba Boi. As festas do Boi ocorrem no mês de junho, sendo os preparativos organizados pela mãe de João de Deus, dona Marta das Virgens Campos Jardim, no mês de maio, depois da Semana Santa. A festa de Santa Bárbara também é importante, acontecendo sempre em dezembro.
A mãe de João de Deus também é pajé, aprendizado que foi transmitido pela bisavó e herdada por João de Deus. Sobre
isso, ele conta o seguinte:
“Minha mãe conta que quando eu nasci, com oito dias de nascido me roubaram da rede. Aí ela ficou sem saber porquê.
Aí se choraram muito e não me viram por onde eu saí. Aí por volta da meia noite me acharam na porta da casa de novo.Deve ter sido essas mãe d’água, essas coisas.
_Mãe d’água?
_Invisível...Aí ela ficou com medo de mim. Não voltou nem a me dar peito para mamar.Minha mãe já no primeiro peito que me deu mama, aí voltou a me dar leite de novo. Até ela acostumar. Aí sim. O fim da história foi quando eu comecei aos três anos de idade, primeiramente, quando eu tinha um ano mais ou menos me deram uma pedra, branca, e colocaram dentro da minha rede. Era fria demais essa pedra. Eu tinha medo demais. Aí aos três anos eu comecei a ter umas vertigens, né, uns ataques. Foram demonstrando que eram essas coisas que estavam me persegunido. Aí com dez anos eles me levaram novamente. Passei cinco dias não sei para onde. Com cinco dias eu cheguei. Só lembro que quando cheguei lá eu abri meus olhos. Parecia uma cidade. E com doze anos eu comecei a trabalhar, a incorporar. Mesmo não querendo, fui obrigado a entregar...trabalhei a partir dos doze anos...estou com 46 anos...”
As reuniões na casa ocorrem aos sábados, onde João de Deus e seus seis discípulos atendem aos moradores.