
Quilombos de Pinheiro, Maranhão
Povoado Quilombola Belo Monte
O Povoado de Belo Monte tem cerca de 50 famílias e 180 habitantes. Está no meio de outros povoados, como Barraca e Santa Sofia. Esses povoados têm uma história em comum.
A origem da comunidade está associada à antiga Fazenda Barraca, onde havia engenhos e plantações onde os escravos trabalhavam.
No Povoado de Belo Monte, dona Belinha (Florisbela), com 83 anos, é uma das moradoras mais idosas e neta dos primeiros moradores do local: “meus avós foram nascidos em Belo Monte. Eu me criei do outro lado, chamado Conceição. Agora vim a moradia fazer aqui em Belo Monte, que era de meus avós de parte de mãe, materno. Era Laurêncio, Bárbara”. Os avós maternos dela, Bárbara Francisca Xavier e Laurêncio Justiniano Maia, foram os primeiros moradores do local.
Laurêncio Justiniano Maia foi criado na Fazenda Barraca. Foi “batizado” pelos donos da fazenda e tratado como afilhado, o que lhe garantiu um trecho de terra por herança onde atualmente está o povoado. Por ser afilhado dos antigos donos da Fazenda, Laurêncio não foi escravizado, apesar da existência de escravos na Fazenda no período em que lá cresceu. Senhora Julieta, irmã de Belinha, 81 anos, também conta que “ele nunca foi escravo porque lavaram a cabeça dele na pia”. Dona Belinha lembra que houve uma senhora chamada Maria Isabel que era dona da fazenda.
Dona Belinha conta que cresceu ouvindo histórias sobre a existência de escravos na região. Quando o povoado foi criado, o trabalho nos primeiros tempos de Belo Monte, então chamado de Campina, era com lavoura de arroz e mandioca, principalmente.
Belinha conta que quando criança ainda havia “paredões” de pedra na antiga Fazenda, “que eram da escravidão”.No terreno da antiga Fazenda Barraca, ainda há resquícios do antigo “sumidouro”, poço com lanças espetadas no fundo que era usado para lançar escravos rumo à morte.
A Fazenda Barraca está na origem não só de Belo Monte como também de outros povoados da região. Lá era “moradia dos brancos” e onde trabalhavam os escravos na região.
O cemitério da comunidade, situado no terreno ao lado da antiga Fazenda, está em um elevado, podendo ser visto dos campos alagadiços da planície. É usado pelos diversos povoados da região.
Sobre a origem das demais pessoas que formaram o povoado, dona Joana informa: “há moradores do próprio povoado e outros que chegaram depois, vindo de povoados e regiões próximas”. Mas na origem e ainda hoje, os moradores descendem principalmente da primeira família. Quando o povoado surgiu, eram poucas casas, contam os moradores. A maior parte dos mais idosos, contudo, já faleceu.
O trabalho, desde tempos longínquos, é com farinha. Muitas mulheres mexiam os fardéis de farinha, ficavam no forno e cortando as manevas (mandioca) na roça. “Era serviço bruto”, segundo dona Joana. Os homens tiravam a farinha, raspavam, cortavam. E as mulheres iam para o forno. Hoje as mulheres “cuidam de menino” e os homens “vão mais para a capina”.
Hoje a comunidade tem uma casa de farinha, existindo outras três em Santa Sofia. Mas os moradores de Belo Monte usam apenas a do próprio povoado, mas acontece de “em necessidade mesmo”, “esperar a vez” na casa de farinha.
Trabalha-se com arroz no povoado, mas principalmente com mandioca e feijão. A água está escassa “até para o consumo” e o poço prometido pela prefeitura não foi concluído. Só há um poço feito pelos próprios moradores, “cacimbão”. Não é, assim, suficiente para atender as necessidades da comunidade.
Há dois terreiros de Tambor de Mina na comunidade, onde são organizadas festividades e atividades religiosas: o de Maria Angelina e o de São Sebastião. Praticamente todos da comunidade frequentam os terreiros. Há ainda o Tambor de Crioula na comunidade, bem como rezas feitas por moradores. Rogério, filho de Maria Angelina, é quem organiza o reggae e o Tambor de Crioula.
O terreiro de Maria Angelina é herança espiritual do pai dela, Elígio dos Santos Borel. Elígio foi nascido e criado no povoado. Maria Angelina, hoje com 60 anos, acompanhava os pais desde criança nas atividades, mas foi só com os trinta que começou ativamente a organizar as atividades do festejo e do batuque. Cosme e Damião em setembro e a festa de Santa Bárbara em dezembro são as festas principais realizadas no terreiro.
O Tambor de Mina é festejado, principalmente, aos sábados, havendo poucos evangélicos e católicos praticantes, “de tradição”, no povoado. A igreja católica fica em povoado próximo. A quantidade maior de evangélicos é do povoado vizinho, Santa Sofia.
As terras do Povoado são de propriedade comum, “dos Maias mesmo”, como disse o senhor Damásio. Sendo “da comunidade mesmo”, desde a doação do “quinhão de terra” pelos donos da Fazenda Barraca. Há, segundo os moradores, a escritura da terra.