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Povoado Quilombola de Pacoã

Pacoã é um povoado com 44 famílias e cerca de 150 moradores localizado no Território Quilombola do Caruma. 

 

Dispõem de uma associação de moradores para organizarem suas atividades e as terras onde moram são de  ocupação tradicional. A estrada de acesso à comunidade está em bom estado, ao menos no período de estiagem.

As casas da comunidade são de taipa. A água consumida é extraída de um poço rudimentar e o esgoto é  escoado a céu aberto ou destinado a “cistina”. Não há, com isso, banheiros nas casas. 

O acesso à água é um problema sério para a comunidade e tem se agravado. As diferentes nascentes outrora  abundantes secaram e a única que resta está prestes a secar, localizada em área muito próxima a novo foco de  desmatamento, realizado por “gente de fora, até de Central do Maranhão”, diz Edilson, atual líder comunitário. 

O lixo que produzem é queimado e quando precisam de médico precisam se deslocar até o posto de saúde da  cidade, embora já tenha passado por lá alguma equipes de saúde com tratamento dentário, inclusive. 

Dispõem de energia elétrica e recebem o desconto de tarifa social de baixa renda. A escola que existe na  comunidade é de ensino básico primário, não chegando nenhum material didático para as crianças. 

Vivem basicamente da agricultura de subsistência, mas tem dificuldade de obtenção de alimentos para todos os moradores. Mesmo assim, as cestas básicas destinadas do governo federal destinadas às comunidades  quilombolas não chegam. Não assistência técnica para a produção de alimentos e nem excedente produtivo a  ser vendido  a programas oficiais de aquisição de alimentos. O Bolsa Família, com isso, é um benefício conhecido e acionado pelos moradores. Contudo, o Benefício de Prestação Continuada é desconhecido pelos idosos. Apesar disso, agentes públicos como assistentes sociais ou defensores públicos nunca estiveram na comunidade. 

Segundo os moradores, as pessoas mais idosas do Povoado estão falecendo e, com isso, parte da memória da  comunidade também se esvai. 

Como surgiu a comunidade? Edilson afirma que a origem do Povoado ocorreu com na Fazenda Caruma:  “Os idosos contam que contas as comunidades aqui entre Sudário, Proteção, são da época do Caruma. São  gerações da Fazenda Caruma. Assim foram formadas Sudário, Proteção, aqui. Então todos, de acordo com os  mais idosos contavam, vêm de lá”. 

Segundo Edilson, muitos dos que trabalhavam na Fazenda eram de Bequimão e lembra da  história de sua família: “O meu avô foi uma das pessoas que trabalhou lá ainda, no engenho de Caruma. Ele e várias pessoas daqui”. 

A família de Jacinto Guterres, de Pinheiro, que era proprietária da fazenda. História reafirmada no local. Segundo o  senhor Lúcio – Luciano Sá -, que chegou a trabalhar na fazenda antes dela ser desativada, informou Edilson,  “A terra da Fazenda Caruma, Povoado de Boa Lembrança, Bacabal, próximo a Pirinã, eram terras dessa senhora  chamada Domingas, que era “a branca da época”, como dito por Edilson. Com a chegada da família de Jacinto Guterres, a Domingas deu a parte que era do Caruma para eles trabalharem porque eles não tinham terra”. “Quando o Jacinto  casou e teve filhos, ele disse para Iná Guterres [sua mulher] não vender a terra porque ela havia sido repassada para  eles trabalharem nela. Foi assim que teve início a produção de cachaça, o canavial...tinha muita coisa aqui. Tinha o  Engenho, a Casa Grande num lugar próximo chamado Marravara...lá ainda tem um lugar onde castigavam os escravos,  um buraco chamado sumidouro. Hoje em dia só tem essa face de cima. A estrutura profunda está coberta. Tem os  poços antigos da época que eles fizeram”. 

Com a morte do Jacinto Guterres, a esposa dele, Iná Guterres, providenciou a escritura da terra, vendendo-o para Jair. “Jair a repassou para Domingo Papo de Rola - Domingo Diniz -, passando para Orismar e de lá...hoje se encontra na mão do Jorge”, disse Edilson. Jorge começou a vender as terras próximas. Os novos ‘donos’ querem plantar trigo, já enviaram técnicos. Estão há 5 km da casa de Edilson. Além disso, há conflitos na comunidade com antigo presidente e fundador  da associação de moradores, José (?) e sei irmão Benedito (?), herdeiros tradicionais de parte do território e que não  permitem a construção de casas ou poços sem a autorização deles. 

Parte da terra, a região de Sudário, ficou com Maria Cecilia, filha de Jacinto e Iná, e seu marido, Leopoldo, quem  dividiu a terra. Maria Cecília desde 2013 começou a vender terras e neste processo foi iniciado um violento conflito no  povoado de Sudário, período em que este obteve a certificação a Palmares (2014). Os conflitos continuam. 

O trabalho na época era trabalho escravo. “Meu avô nasceu em 1918 e trabalhou lá. Antes dele tinha a mãe dele que  trabalhou lá...ele se chamava José Marculino Leite. Depois mesmo do trabalho forçado. Que teve a Abolição da  escravidão também...e depois dessa época eles permaneceram trabalhando lá...não era mais forçado, mas para o pão  de cada dia..”

“Meu avô me contava que a mãe da madrinha dele foi escrava lá”, disse Maria José Leite, irmã de Edilson. 

Havia uma casa também chamada de Casa Grande no povoado. Informa o senhor José Anastácio: “Eu conheci só a  parte dela. Não conheci a casa perfeita. Só os esteião grande, tudo grandão”. Como era o trabalho ali? “Não era mais o  trabalho escravo que tinha. Era quase a mesma coisa, porque tinha aquele pessoal mais rígido e de melhor condição... mas quando conheci era só a tapera, os esteiros...as pessoas pegavam madeira para a casa de forno”. 

E quem era dono? “Quem comandava eram meus bisavós. Quando eu conheci, já era minha vó...minha avó era Ignez e meu avô era Joaquim,da parte de meu pai. E da parte de minha mãe era  Leonor e Juvenal. Os donos eram da parte de pai”. Os donos da casa eram da parte de pai, ou seja, Ignez. “Inclusive, essa terra aqui era mesma terra do Caruma, 

né?, a minha vó era descendente dos brancos do Caruma. Ela era negra também. Ela tinha cor clara, mas tinha o 

cabelo bem seco mesmo e o beiço também na escondia, né?”. Ela descendia dos brancos da Fazenda? “Ela foi criada lá, no Caruma. Aí quando saíram, que libertaram todo mundo de lá, aí que lhe deram...isso aqui foi herança, foi ganho, 

deram um pedacinho pra um, pedacinho pra outro, então isso aqui é ganho, né?” Então eles doaram pedaços de terra? “doaram para as pessoas que viviam lá”. 

Na época da Fazenda eles plantavam alguma coisa pra cá? “Plantavam. Tinha, tinha...” Disse Edilson. Senhor Anastácio complementou: “Tinha muita cana no Caruma...mas lavoura de cana era de Proteção pra lá assim. Era muita cana.  A terra era boa de cana demais”. Então doaram as terras: “Sim. Não deixaram assim avulso, né? Saiu esse pedacinho  de terra prá, saiu Sudário, saiu para Boa Lembrança...”. 

Como o povoado passou para as mãos de alguém? Anastácio: “Aqui foi passando de pai pra filho. Quando eu me  entendi, era da minha vó. Aí a mãe do meu pai cuidava. Pagava os impostos. Assim, não tinha uma declaração direta do limite [do território] né? Quando minha avó morreu, eu continuei pagando os impostos. Só que tinha várias pessoas que tinham...que mandavam, né? Se fazia dono, assim, mas não pagava nada de dono, né? Depois veio outro velho que meu pai mandou cortar e ficou separado.” “Hoje são dez irmãos em 282 hectares, herdeiros de Eusébio e Juliana [herança de  Ignez]”. “Nem todos que moram na terra são de minha família. O pessoal morava dentro e ficou. A gente não mexeu. A gente fica reunido”. Além desses, alguns outros também das comunidades do entorno, com as quais já se mantinham  vínculos, foram se estabelecendo no Povoado também. Hoje a comunidade não tem título de terra. 

Hoje a comunidade é devota de São Benedito e celebra também a São José. 

Tinha Pajelança aqui perto? Edilson responde: “Tinha. Tinha na época. Bem ali próximo a essas primeiras casas tinha  uma senhora que chamava Terezinha de Jesus Guterres (ênfase), porque a mãe dela foi criada na época com os  Guterres, então passaram o sobrenome para a mãe dela e ela também hoje se assina por Guterres por essa ocasião. Ela é uma das pessoas que tinha um salão antigo ali...tinha outra ali, Maria Ilda, que tinha um salão, mas se acabou...só  tem a parte do piso  onde funcionava o salão”. “Tinha também a Maria Posta, tem uma Sudário, Lucimar...antigamente, há uns anos atrás, acontecia frequentemente tambor de crioula, levantamento de mastro, tudo isso teve”. “Tinha  bumba boi, mas com o tempo foi morrendo...e hoje está praticamente parado”. 

Anastácio: “Foi ficando difícil. O pessoal hoje só quer andar de carro. Naqueles tempo os brincantes de boi saía cada  qual com seus instrumentos nas costas e não tinha distância. Hoje não. Para ir ali tem que ir de carro. Aí não deu mais  para fazer”. Senhor Lucio Sá era cantor de boi. 

“Isso antigamente era de pai pra filho...quem é mais novo vai largando..não procura aprender....tambor de crioula tem  às vezes no Caruma...” Tem Regaae? “Todo final de semana. A galera novata está em outra situação! A gente não  aprende, não sabe e outros não se interessa. Não vai passando de geração pra geração mais...”

Hoje o trabalho é mais com o quê? Roça de milho, mandioca, banana, “os que são utilizados pela comunidade”. “A  dificuldade que tem com a roça é muito grande”. Edilson. 

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